sexta-feira, 18 de abril de 2008

Um génio dos diabos...

Emília das Neves de Sousa, conhecida por a Linda Emília, nasceu em 5 de Agosto de 1820 em Lisboa e faleceu a 19 de Dezembro de 1883. Era filha de um dos bravos do Mindelo (membros das forças liberais que participaram no desembarque do Mindelo). Casou-se com D. Luís da Câmara Leme (político e intelectual português do tempo da monarquia constitucional).
Começou por desejar estudar bailado mas um amigo convenceu-a a ter lições com Émile Doux, o mestre francês que estava em Portugal para reabrir o Teatro da Rua dos Condes e que foi responsável pela primeira apresentação de dois textos de Shakespeare em Portugal: Hamlet e Othello.


Um dia, Almeida Garrett assistiu a uma das aula e ficou encantado com a actriz, que quis que desempenhasse o papel de Beatriz na sua peça Um Auto de Gil Vicente, que marca o início da reforma do teatro português que empreende. Depois da estreia, no dia 15 de Agosto de 1838, no Teatro da Rua dos Condes, Garrett foi ao seu camarim e fez o seguinte comentário: «O seu talento é muito grande para terra tão pequena. N’este nosso Portugal vai encontrar as maiores amarguras”.
Emília das Neves era muito bonita e tinha um belo instinto de palco. Apesar de quase inculta, era capaz de grandes efeitos. Tinha uma personalidade forte e foi talvez o maior génio dramático que pisou um palco no nosso país. Por isso terá sido incluída num restrito grupo de actrizes cujos retratos foram publicados em Paris – o marketing da época…
Emília das Neves lutou muito pela melhoria das condições de trabalho que as companhias impunham: recusava-se a entrar em duas peças por noite (era assim, na altura!), a fazer mais de catorze – leram bem! – peças por ano, a representar no S. Carlos “porque do meio da plateia para trás ninguém ouve”, exigia um mínimo de vinte ensaios por peça, o seu salário a tempo e horas e queria que a empresa lhe fornecesse o “vestuário antigo”, responsabilizando-se ela pelo “vestuário moderno e o baixo-vestuário”…
Por isto tudo, teve muitos problemas e andou a saltar de uma companhia para a outra, regressando regularmente ao D. Maria. Representou no Porto e no Brasil.
Nunca deixou que escrevessem a sua autobiografia, tarefa que ficou reservada ao marido, que também se encarregou de escrever para os jornais e empresas, em defesa dos seus direitos e do seu nome, sempre que era atacada.
Desempenhou papéis em peças como O Renegado de Mendes Leal (1841), As Proezas de Richelieu (1842) em que fez de Cardeal Richelieu em travesti, Adriana Lecouvreur de Scribe (1849), Maria Stuart de Schiller (1854), a Dama das Camélias de Alexandre Dumas, filho (1854), A Mocidade de D. João V de Rebelo da Silva e Ernesto Biester entre outras. Tudo grandes papéis que criou pela primeira vez em palcos nacionais.
Com ajuda da nossa correspondente Raquel

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